A Carta Roubada

Edgard Allan Poe

Paz e Terra

Romance policial; Literatura brasileira - 189 páginas

Resumo:

Monsier G., chefe de polícia parisiense, recebeu informações de que um importante documento fora roubado dos aposentos reais. Curiosamente a identidade do ladrão era conhecida, pois ele tinha sido visto pela própria vítima no pernicioso ato. A simples posse do documento por qualquer outra pessoa, e não a utilização dele, tornava refém a vítima, proeminente figura da realeza, cujo receio era a revelação do conteúdo da carta para uma importante terceira pessoa. Nossa, quantos segredos!!!

Mais uma vez Dupin tem êxito na elucidação de um crime utilizando a lógica dedutiva, neste caso um crime de honra com fins políticos. Além de ajudar Monsier G., consegue indiretamente devolver a paz ilibada à ilustre vítima real, receber uma recompensa e ainda vingar-se do tal ministro por um ato sofrido no passado. Aqui se faz, aqui se paga!

“A carta roubada” (1844) é o terceiro conto policial de Poe e o último caso a ser resolvido por C. Auguste Dupin.

Considerado o pioneiro da ficção policial, Edgar Allan Poe criou o detetive C. Auguste Dupin (C. de Chevalier de l’Ordre National de la Légion d’Honner, ou seja, Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra, instituída por Napoleão Bonaparte em 1802). Dupin, além de ser o primeiro detetive da literatura, é o primeiro a usar a lógica dedutiva e métodos científicos para solucionar os seus casos. O personagem icônico abriu caminho para outros detetives do universo do gênero policial, por exemplo, o famoso detetive Sherlock Holmes (1887), personagem de romances e contos do médico e escritor escocês Arthur Ignacius Conan Doyle (1859-1930); Hercule Poirot (1920), detetive protagonista de vários livros da britânica Agatha Christi (1890-1976); Mandrake (1983), advogado com vocação de detetive do escritor brasileiro José Rubem Fonseca (1925-2020); Fredrika Bergman (2009) a burocrata que se revela uma excelente detetive nos livros da cientista política sueca Kristina Ohlsson (1979-); entre tantos outros.
C. Auguste Dupin é o protagonista de três contos de Edgar Allan Poe: “Os assassinatos na Rua Morgue” (1841), “O mistério de Marie Rogêt” (1842) e “A carta roubada” (1844). A exemplo do criador, o personagem teve uma vida muito breve (1841-1844) uma vez que só apareceu nesses três contos, nada mais. Porém foi o suficiente para impressionar e inspirar vários outros autores e seus métodos analítico, científico e investigativo serviram como base para técnicas desenvolvidas até hoje pela Scotland Yard (ou New Scotland Yard) e pelo FBI, por exemplo.
Vamos conhecer um pouco deste terceiro conto policial de Poe e do último caso a ser deslindado por este famoso e excêntrico personagem? No início de uma noite de outono de 18– em Paris, mais precisamente na pequena biblioteca particular do famoso detetive em Faubourg St. Germain, estavam C. Auguste Dupin e seu fiel amigo em profundo silêncio, envoltos em seus pensamentos e na fumaça que saía de seus cachimbos de espuma (no século XIX foi moda entre as pessoas abastadas e os intelectuais o uso de cachimbos esculpidos em um mineral branco, silicato hidratado de magnésio, meerschaum, que em alemão significa espuma do mar; alguns eram verdadeiras obras de arte). Embora no escuro e em silêncio absoluto, os dois partilhavam os mesmos pensamentos, os casos que haviam desvendado juntos nos últimos anos: os assassinatos ocorridos na Rua Morgue e o mistério que envolveu o assassinato de Marie Rôget. Eis que de repente essa atmosfera é dissipada pela entrada inesperada de Monsier G., o chefe de polícia parisiense que coincidentemente também esteve envolvido na busca de solução para os dois casos.
Dessa vez, contrariamente ao que aconteceu antes, Monsieur G. veio pedir ajuda, na tacanha opinião dele, à excêntrica dupla. Dupin logo providenciou uma poltrona e um cachimbo de espuma para que o visitante pudesse se sentir à vontade para se integrar ao grupo e dividir a sua inquietação.
Monsier G. insistia em banalizar o que o havia levado até ali. – “[…]. A questão é, o caso é muito simples, de fato, e eu não tenho a menor dúvida de que nós poderemos conduzi-lo bastante bem sozinhos. No entanto pensei que Dupin gostaria de ouvir pormenores do caso, justamente por ser demasiado estranho.” Hum! Simples e estranho na mesma frase aguçou imediatamente a curiosidade de Dupin. Enfim, o que aconteceu? Embora o assunto fosse extremamente sigiloso, Monsier G. confiou e partilhou as informações com Dupin e seu amigo.
O chefe de polícia recebeu informações de que um importante documento fora roubado dos aposentos reais. Curiosamente a identidade do ladrão era conhecida, pois ele tinha sido visto pela própria vítima no pernicioso ato. O larápio que era nada mais nada menos que um ministro fez-se valer por um lado da fragilidade e do momento em que a personalidade real recebera o comprometedor documento e, por outro lado, da oportunidade política da apropriação do mesmo. A simples posse do documento por qualquer outra pessoa, e não a utilização dele, tornava refém a vítima, proeminente figura da realeza, cujo receio era a revelação do conteúdo da carta para uma importante terceira pessoa. Nossa, quantos segredos!!!
A título de curiosidade, a monarquia foi abolida da França em 1870, porém antes da extinção o país teve duas repúblicas efêmeras – a Primeira República (1792-1804) e depois a Segunda República (1848-1852) – intercaladas entre períodos de monarquia. Atualmente o país está na Quinta República (1958-).
Agora a tarefa de Monsier G. era reaver a carta sem que o Ministro D. pudesse sequer desconfiar da investigação. O chefe de polícia, portanto, fez-se valer de tudo o que tinha à mão: as informações sobre os hábitos noturnos do ministro e os da sua criadagem; as chaves com as quais conseguia abrir qualquer porta em toda Paris; as prerrogativas do cargo na polícia. Por três meses ocupou-se pessoalmente de liderar a sua equipe e escarafunchar minuciosamente a propriedade do ministro Todos os cômodos, móveis, almofadas, embrulhos, pacotes, espelhos etc. O empenho era tamanho que analisaram as capas dos livros ao microscópio para ter certeza que as mesmas não tinham sido “mexidas”. Chegaram até a retirar os ladrilhos do entorno da casa e nada! Além de encenarem dois assaltos para que pudessem revistar o ministro e saber se ele carregava o documento quando se ausentava de casa. No decorrer do relato minucioso de Monsier G. Dupin e seu amigo entenderam a ansiedade e o porquê de tanto empenho em encontrar o objeto roubado. Afinal havia uma recompensa vultosa em jogo que cujo valor já havia sido dobrado para que a carta fosse devolvida à vítima sem qualquer alarde e sem que o seu conteúdo fosse revelado.
G. respondeu a todas as perguntas dos dois amigos, reconheceu que esgotou todos os recursos e que mesmo que a recompensada fosse triplicada sentia-se incapaz de encontrar o documento. E que estava disposto a abrir mão de uma parte da recompensa e entregar a quem encontrasse a carta. Por fim, assumiu-se desesperançado e que precisava de ajuda.
Dupin, então, aproveita-se do momento oportuno e diz ao chefe de polícia que a troco daquela quantia lhe entregaria a carta. E assim foi!
Como C. Auguste Dupin consegue resgatar a carta roubada sem qualquer alarde, visto que Monsier G. utilizou todos os métodos investigativos disponíveis e sequer conseguiu descobrir onde o objeto estaria escondido?
Mais uma vez Dupin tem êxito na elucidação de um crime utilizando a lógica dedutiva, neste caso um crime de honra com fins políticos. Além de ajudar Monsier G., consegue indiretamente devolver a paz ilibada à ilustre vítima real. Dessa vez, porém, Dupin interessa-se por uma recompensa. Ah, sem falar da vingança! Em determinada ocasião em Viena Dupin também foi vítima de um de um ato maldoso do Ministro D. Aqui se faz, aqui se paga!
“A carta roubada” (1844) é o terceiro conto policial de Poe e o último caso a ser resolvido por C. Auguste Dupin.

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