Assassinatos na Rua Morgue

Edgard Allan Poe

Editora Paz e Terra

Contos - Literatura Norte Americana - 56 páginas

Resumo:

Mãe e filha são encontradas mortas dentro da casa onde moravam sozinhas. Todas as portas e janelas estavam trancadas por dentro. Como entender tanta voracidade desferida contra duas frágeis mulheres? Qual teria sido a verdadeira motivação da matança? Afinal, quem teria cometido tais assassinatos?

Monsieur C. Auguste Dupin consegue elucidar o hediondo crime utilizando a lógica dedutiva, inocentar um homem injustamente acusado pelos assassinatos e ganhar o desdém do chefe de polícia de Paris.

“Os assassinatos da Rua Morgue” (1841) é o primeiro conto policial de Edgar Allan Poe e a primeira aventura do detetive C. Auguste Dupin.

Considerado o pioneiro da ficção policial, Edgar Allan Poe criou o detetive C. Auguste Dupin (C. de Chevalier de l’Ordre National de la Légion d’Honner, ou seja, Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra, instituída por Napoleão Bonaparte em 1802). Dupin, além de ser o primeiro detetive da literatura, é o primeiro a usar a lógica dedutiva e métodos científicos para solucionar os seus casos. O personagem icônico abriu caminho para outros detetives do universo do gênero policial, por exemplo, o famoso detetive Sherlock Holmes (1887), personagem de romances e contos do médico e escritor escocês Arthur Ignacius Conan Doyle (1859-1930); Hercule Poirot (1920), detetive protagonista de vários livros da britânica Agatha Christi (1890-1976); Mandrake (1983), advogado com vocação de detetive do escritor brasileiro José Rubem Fonseca (1925-2020); Fredrika Bergman (2009) a burocrata que se revela uma excelente detetive nos livros da cientista política sueca Kristina Ohlsson (1979-); entre tantos outros.

C. Auguste Dupin é o protagonista de três contos de Edgar Allan Poe: “Os assassinatos da Rua Morgue” (1841), “O mistério de Marie Rogêt” (1842) e “A carta roubada” (1844). A exemplo do criador, o personagem teve uma vida muito breve (1841-1844) uma vez que só apareceu nesses três contos, nada mais. Porém foi o suficiente para impressionar e inspirar vários outros autores e seus métodos analítico, científico e investigativo serviram como base para técnicas desenvolvidas até hoje pela Scotland Yard (ou New Scotland Yard) e pelo FBI, por exemplo.

Vamos conhecer um pouco deste primeiro conto policial e deste famoso personagem? Em Paris, no decorrer de uma primavera e início de verão de 18–, numa livraria pouco conhecida da Rue Montmartre, dois homens encontram-se casualmente por estarem à procura de um mesmo volume raro e, no entender de ambos, extraordinário. E, por partilharem do mesmo interesse em livros notáveis, além de outras compatibilidades, encontraram-se mais inúmeras outras vezes. O narrador personagem ficou muito curioso e interessado pela história do cavalheiro que acabara de conhecer, Monsieur C. Auguste Dupin. O jovem homem era de uma excepcional e conceituada família, porém devido a infortúnios viu-se reduzido à penúria material e ao abatimento moral a ponto de desistir da vida mundana que estava acostumado e da recuperação da fortuna perdida. Por mera gentileza os credores não lhe confiscaram tudo, restando à sua disposição uma pequena parte de seu patrimônio que lhe rendia o suficiente para uma vida espartana na qual o único luxo eram os livros.

Dupin falava de si próprio e de sua tragédia pessoal com facilidade e demonstrou ser um homem culto, aficionado, intelectualmente criativo e imaginativo. Pareceu ao recente amigo ser uma excelente oportunidade desfrutar de tão especial companhia no decorrer de sua estada em Paris. Acertaram, então, que viveriam juntos nesse período. Alugaram uma mansão antiga, um tanto ou quanto bizarra, praticamente em ruínas na parte esquecida do Fauburg Saint-Germain. Tanto a despesa de aluguel quanto a decoração da moradia ficaram a cargo do amigo que desfrutava de melhores condições materiais do que o desafortunado Dupin.

Decidiram-se pelo isolamento total. Ambos, premeditadamente, mantiveram o novo endereço em absoluto segredo o que era bastante oportuno considerando a excêntrica rotina da casa, principalmente devido aos hábitos às avessas de Dupin. Durante o dia mantinham a casa totalmente fechada, iluminada apenas por duas velas, que criava uma ambiência propícia à leitura, à escrita ou à conversa. À noite saiam pelas ruas da cidade adormecida para exercitar o corpo e a mente e Dupin demonstrava sempre uma peculiar habilidade analítica.

Em um desses passeios noturnos foram surpreendidos por uma manchete da edição noturna da Gazette des Tribunaux: ASSASSINATOS EXTRAORDINÁRIOS.

“Esta madrugada, por volta das três horas, os moradores do Quartier St. Roch foram acordados por uma sucessão de gritos espantosos vindos, aparentemente, do quarto andar de uma casa da Rua Morgue, ocupado, segundo se diz, somente por uma tal de Madame L’Espanaye e sua filha, Mademoiselle Camille L”Espanaye. […]”

Já não se ouviam os gritos de desespero, quando o grupo formado por alguns vizinhos e dois policiais entrou no prédio após arrombar a porta de entrada. O grupo começou a subir as escadas ao encontro do som de vozes em uma acalorada discussão. De repente a discussão calou-se e, ao abrirem a porta de um dos cômodos do quarto andar, todos, sem exceção, ficaram estupefatos ao se depararem com a desordem e a sujeira encontradas. Porém não havia sinal das supostas vítimas.

Ao fazerem uma busca minuciosa pelo interior e exterior da casa descobriram os corpos brutalmente mutilados e sem vida de Madame L., a proprietária do imóvel, e sua filha. Todavia a porta principal e todas as janelas encontravam-se fechadas, inclusive a porta do tal quarto estava fechada por dentro. Uma tragédia envolta em um grande mistério!

No jornal do dia seguinte o funesto acontecimento é chamado de A TRAGÉDIA NA RUA MORGUE. Algumas opiniões em relação às vítimas eram unânimes: mãe e filha eram afetuosas uma com a outra; viviam em absolta reclusão; eram muito reservadas; e viviam de outros rendimentos, visto nunca terem tido hóspedes na casa. Ah, alguns acreditavam que Madame L. era cartomante, o que não fazia sentido já que nunca foram vistas pessoas entrando e saindo da casa, exceto algumas poucas visitas de um médico.

Muitas pessoas foram ouvidas na tentativa de esclarecer o enigma. Todos ouviram gritos de agonia, porém não conseguiam distinguir as palavras e o idioma. Para o policial francês, algumas palavras eram certamente em francês, mas outras pareciam ser em espanhol; para um vizinho também francês, embora não conhecesse o idioma italiano, afirmou que um dos interlocutores era italiano; para o restaurador holandês a voz estridente era de um homem francês; para o alfaiate inglês a voz poderia ser de uma mulher alemã, embora não entendesse nada em alemão; para o agente funerário espanhol uma das vozes era de um francês e a outra de um inglês; para o confeiteiro italiano a voz aguda era de um russo.

Dois médicos foram chamados para examinar os corpos das vítimas e confirmaram que ambas foram mortas de forma incrivelmente violenta. Enfim, após os inúmeros interrogatórios inconclusivos e embora aparentemente nada tenha sido subtraído da casa, Adolphe Le Bon, funcionário da firma Mignaud et Fils, foi preso simplesmente por ter sido visto no dia do fatídico acontecimento a ajudar a carregar uma das duas bolsas de Madame L. contendo milhares de francos em ouro que ela havia retirado pessoalmente do banco uns dias antes.

Dupin embora não se manifestasse demostrava interesse pelo o caso. Porém só começou a discutir o crime com o seu amigo quando Le Bon foi preso. Decidiu que juntos fariam uma investigação independente considerando que devia favores a Le Bon e que não seria difícil conseguir a permissão visto que conhecia o Monsieur G., chefe de polícia parisiense.

Logo que conseguiram a importante permissão começaram a analisar o entorno e a casa onde tudo aconteceu. Dupin e o amigo esquadrinharam cada milímetro da cena do crime, analisaram todos os depoimentos, leram e releram todas as notícias sobre o caso. Embora estivessem sempre em companhia um do outro, conduziam as investigações de forma diferente. Dupin fazia análises e deduções em voz alta absorto em seus próprios pensamentos.

Ambos, ainda que por métodos investigativos diferentes, concordavam que o crime havia sido cometido por uma terceira pessoa que não Le Bon. Porém, como explicar todas as portas e janelas fechadas? Como entender tanta voracidade desferida contra duas frágeis mulheres? Qual teria sido a verdadeira motivação da matança?

Dupin consegue elucidar o hediondo crime utilizando a lógica dedutiva, libertar Le Bon e ganhar o desdém de Monsieur G., que segundo Dupin é astuto demais para ser profundo. Afinal, quem terá cometido os assassinatos? Por que?

“Os assassinatos da Rua Morgue” (1841) é o primeiro conto policial de Edgar Allan Poe e a primeira aventura do detetive C. Auguste Dupin.

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